Queria saber quem inventou o termo “madrugada”. Quem passou
a primeira madrugada em claro, e quem – primeiro – teve medo dela. Há quem diga
que a madrugada é dos estudantes fervorosos, há quem diga que é dos solitários,
há quem diga que é dos amantes, há quem diga que é dos que farreiam, e há quem
diga que foi a madrugada foi feita para dormir.
Certa vez, quando
mais nova e alguns anos atrás, fui questionada por nunca ter passado uma
madrugada em claro e choque daquelas pessoas – mais velhas que eu – me levou ao
questionamento: o que havia de tão fascinante em ficar horas a mais acordado
quando poderia estar no conforto de minha cama.
E então que
no mesmo ano em que me questionaram isso fui para a casa de uma amiga e junto a
um grupo de amigos, passei a minha primeira madrugada acordada, sorrindo,
ouvindo música, tendo aquele sentimento bom de juventude e alegria. E alguns
meses depois, foi quando dei-me ao tempo de analisar o processo daquele momento
que é um marco da vida de todo e qualquer “pré-adolescente.”
Tudo começa nos
planejamentos, as conversas, e cochichos sobre o que irão fazer enquanto todos
dormem e as prendas que alguns sofrerão se entregarem-se ao sono. Então chega a
hora, os seus pais – ou dos seus amigos – dormem e tudo começa, o quarto vira
uma taberna adolescente. A adrenalina e emoção correm nas veias de todos, porque
apesar de toda a diversão, o mínimo ruído externo e suspeito todos voltam a
dormir com medo da ligação que seus pais podem receber reclamando do seu
comportamento (coisa que talvez a crianças de hoje não entendam devido ao pouco
respeito que tem ao seus pais, mas isso não vem ao caso nesta crônica).
E chega a
metade da madrugada e a velocidade das conversas diminuem, uns se entregam ao
sono, - e ainda ousam se surpreender por acordarem sujos de pasta de dente! –
outros olham com um olhar de decepção por quebrarem a promessa, perdendo sua
honra, por desistirem faltando tão pouco. Mas ai os vitoriosos, que resistiram
até o fim ganham a maravilhosamente recompensa de quando o sol nasce, vendo
nosso planeta ficar um dia mais velho e caótico, e o orgulho de olhar com
superioridade aos que perderam a batalha.
Ah, mas meu
caro leitor, se até aqui eu lhe fiz pensar que as madrugadas são a mais pura
felicidade, sinto lhe dizer que você está completamente enganado. As madrugadas
podem se tornar as maiores inquisições para o ser humano seja ele um romântico
em crise ou extremamente apaixonado que passa horas com suas idealizações, seja
o criminoso que passa as madrugadas acordado enfrentando seus fantasmas, seja o
aflito que toda madrugada chora pelo passado. Seja o bêbado que vê seu refúgio
em suas gotas de álcool para esquecer a miséria em que vive, seja a mãe
inquieta pensa no futuro dos seus filhos.
É, nunca
madrugada foi o sinônimo de felicidade para todos.
Alguns, que
se deram ao trabalho de ler até aqui poderão dizer “mas que idealização da
madruga é essa! Apenas mais algumas horas no relógio”. Bom, talvez sim, talvez
nãom dou-lhe o benefício da dúvida, dou-lhe o benefício da dúvida. Talvez as
crianças de hoje nunca entendam o que eu disse no inicio, talvez os de mais de
idade discordem do que irei dizer por último. Mas de todas as funções que a
madrugada pode ter, dormir é a última delas.
1 comentários
Acrescentaria que a madrugada é a hora de labuta dos escritores, que digitam arduamente páginas e páginas no silêncio e que só saem do transe, inebriado por tamanho clima de tensão em cada palavra, com o aviso do galo amigo. Ela é uma companheira, e há vezes que é nela em que desenvolvemos o tão estimado auto-conhecimento, horas assustadora, horas acolhedora. A criatividade corre solta. O único fato a se lamentar é ficar eternamente com aquele ar de morto-vivo, isso talvez até se torne um charme, talvez.. talvez. Retribuo-lhe o benefício da dúvida
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