Era um sábado qualquer às três horas da tarde na principal
avenida da cidade. Qualquer. Mas como tudo é questão de ponto vista, o que é
qualquer para um para outro já não o é, e como tudo é questão de tempo, o que
num momento é comum, noutro já o deixa de ser. E foi assim que tudo começou para
a doce menina que pedia esmola no sinal às três horas da tarde.
Tal rotina não a incomodava mais. Era sempre o mesmo
dilema, acordava de manhã cedo, preparava o café e ia ela e a irmã mais velha
para o sinal. Às vezes, esperneava porque queria brincar com as outras
crianças, mas tinha que ir com a irmã mais velha por dois motivos: não queria apanhar
dela, e por ser uma doce criança as esmolas eram maiores – talvez pela falsa
piedade que alguns sentem ao vê-la tão nova e já tão sofrida.
E lá estava ela mais uma vez no sinal.
Quando a luz vermelha acendeu, ela correu para o primeiro
carro que viu. Um carro cinza como nuvens carregadas desceu o vidro. A doce garotinha
estendeu a minúscula mão e ao levantar a cabeça encontrou os olhos revolucionários,
porém carinhosos, de uma jovem mulher.
- Não. – disse a moça que já a tudo observava – Não vou dar
dinheiro algum à você. Essa vida foi sua irmã que escolheu, não você. – o sinal
abriu, a moça saiu e menina sorriu.
Após três reais e quarenta minutos de trabalho forçado, a menina
deitou-se em sua cama improvisada no minúsculo barraco. “Sua irmã escolheu, não você.” Lembrou novamente do que havia
ouvido. É, a vida não seria assim se ela tivesse escolha. Mas no fundo um
sentimento bom, esperança, lembrou-a que ela era livre e que sim, ela sempre
teria uma escolha.
No dia seguinte, bateu o pé, chorou, esperneou e disse que não
ia. Com o lábio cortado e o olho inchado, sorriu, foi a melhor surra que havia
levado.
Subiu o morro e respirou fundo aquele sentimento de
liberdade, não sabia que vida ia escolher, nem quando ia escolher. Hoje, só
queria ser criança.
2 comentários
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirGostei do teu texto, mas ele é ambíguo, eu vi de outra forma. Por exemplo, será que foi a vida que a irmã escolheu mesmo? Se elas passavam necessidades, ambas tinham que tentar conseguir alguma coisa, certo? O errado, era a irmã mais velha bater na pequena, em minha opinião. Enfim, fiquei refletindo sobre o texto e sobre a história delas, por isso, valeu a leitura. Beijos
Desfocando Ideias
Olá, obrigada pelo seu comentário Natália <3
ExcluirA intenção do texto era essa mesma, que bom que gostou!